Conquistas e desafios são lembrados no Dia Mundial das Mulheres e Meninas na Ciência 09/02/2023 - 14:58

Dados da Unesco mostram que apenas um em cada três cientistas no mundo são mulheres. Um grande desafio lembrado no próximo dia 11 de fevereiro em que é comemorado o Dia Mundial das Mulheres e Meninas na Ciência. São muitas as dificuldades mas as mulheres estão conseguindo, aos poucos, superá-las e têm se destacado em suas atuações como pesquisadoras. 

No Paraná, a participação das mulheres no desenvolvimento da ciência e tecnologia tem aumentado em número e qualidade. Dos 986 convênios vigentes da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico para projetos com  instituições de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), 435 são coordenados por pesquisadoras. Das 8.800 bolsas de pesquisa e extensão vigentes  cerca de 4.500 são de mulheres. 

“Neste século, tivemos um aumento expressivo no número de doutoras e pesquisadoras no estado. Dos 21 mil doutores, cerca de 5.500 são mulheres. E esperamos que aumente até chegarmos a termos um número compatível com o percentual de mulheres na sociedade”, destacou o presidente da Fundação Araucária Ramiro Wahrhaftig. 

“E não é só em quantidade mas também em qualidade. Há muita dedicação e muita entrega para fazer com que, realmente, a ciência e a tecnologia estejam à disposição da nossa sociedade e, cada vez mais, contribuam com o desenvolvimento socioeconômico da população paranaense e brasileira”, completa Wahrhaftig.

Sustento e tempo disponível para balancear filhos e demandas da carreira foram os principais desafios enfrentados pela pesquisadora e professora de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Angelica Beate Winter Boldt. Mãe de três filhos, ela conta que o apoio da sua família, principalmente financeiramente, foi fundamental. 

“Por vezes, o sonho de me tornar pesquisadora foi sustentado pelo salário do meu marido. Marcos também me acompanhou em 2002 para o doutorado integral na Alemanha (com bolsa do CNPq e adicional para dependentes) e ficou cuidando dos dois filhos pequenos, um com cinco e outro com um ano e meio, enquanto eu trabalhava no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de Tübingen, na Alemanha”, conta a pesquisadora.

Segundo a professora Angelica, ao longo dos 27 anos como pesquisadora dos seus apenas 49 de idade, a obtenção de fomento para realizar os projetos de pesquisa se tornou outro grande desafio. “Esta situação tornou-se mais tranquila a partir de 2016, quando surgiu o projeto Mennogen que considero ser o marco zero do período mais maduro da minha carreira.”

O projeto visa a descrição e investigação do perfil genético associado a padrões epidemiológicos das comunidades menonitas latino-americanas. “A princípio sem fomento algum para este projeto em específico, parte dos objetivos do Mennogen só foram alcançados por meio de colaborações nos USA e Alemanha. Os resultados motivaram o projeto estadual dentro do NAPI Genômica - apoiado pela Fundação Araucária e Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, denominado Genomas Paraná, e inspiraram o projeto MedEpiGen, aprovado no edital de pesquisa para o SUS e de âmbito estadual, com colaborações de cinco universidades do interior paranaense. Atualmente, o projeto está se expandindo para atender as comunidades menonitas na Bolívia e espera-se que seja, em breve, estendido para o Paraguai”, explica Angelica.  

Histórias como a da pesquisadora Angelica Boldt inspiram a jovem Ana Luiza Goularte da Silva de 18 anos. Estudante de escola pública e moradora de Campo Largo, ela é caloura no curso de Nutrição da UFPR. 

“Ser mulher e fazer ciência é um ato de resistência muito grande. Eu quero ser uma cientista”, afirmou a jovem que integra um grupo de meninas que conquistaram o primeiro lugar em Ciências Sociais Aplicadas na edição de 2021 da Feira de Inovação das Ciências e Engenharias (Ficiências), promovida pela Itaipu Binacional em parceria com universidades públicas.

Com o projeto “Políticas Públicas para Educação Sexual e Pobreza Menstrual no Brasil: Um estudo de caso em instituições de ensino no Paraná”, Ana Luiza tem participado de feiras de ciências desde o início da pandemia quando se interessou ainda mais pela ciência. “Durante a pandemia vimos a importância da ciência no desenvolvimento das vacinas e a importância das universidades públicas. Para mim a ciência é importante porque você pode ajudar a mudar o mundo”, relatou. 

Desde muito pequena a pesquisadora Carla Forte Molento sempre gostou de aprender sobre as coisas e tentar entender como o mundo funciona. “Dizia que queria fazer pesquisas sobre animais desde antes de entender como isso poderia ser feito. O apoio da minha mãe foi fundamental”, conta a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias e do Laboratório de Bem-Estar Animal da UFPR. 

Casada com um pesquisador e mãe de três filhos, a pesquisadora acredita que diante de tantos desafios enfrentados pelas mulheres na ciência são necessárias mais ações inclusivas para aumentar o número de cientistas mulheres. “Este número está crescendo, mas são necessárias mais ações para que seja maior e também que aumente o número de mulheres em cargos de liderança”, enfatizou. 

Segundo Carla Molento, cientista há 19 anos, a força feminina é grande em sua área de pesquisa que é a de Proteínas Alternativas também tema de um Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação apoiado pela Fundação Araucária. “Um grande desafio para mim foi perceber como os animais eram e por vezes ainda são tratados no ambiente acadêmico-científico e também em várias outras práticas amplamente difundidas, como por exemplo o uso de animais para produzir alimentos. Quanto mais competência e efetividade eu tivesse em meu trabalho, mais eu poderia contribuir para pelo menos atenuar as atrocidades que eram e ainda são cometidas a bilhões de animais a cada ano. É uma realidade muito dura e extremamente persistente, são muitas pessoas empenhadas majoritariamente mulheres”, explica Carla Molento. 

A pesquisadora Angelica Boldt lembra que são muitas as mulheres que, depois de quase três décadas, ainda enfrentam os mesmos problemas que ela passou ao longo da carreira científica. Para ela a realidade só mudará com ações efetivas direcionadas às mulheres na ciência. “Por meio de políticas públicas que possibilitem o exercício da maternidade, junto a uma carreira acadêmica frutífera. Dar a devida importância a existência e ao número de filhos em processos seletivos a vagas de docência e carreiras de pesquisador, assim como em editais de projetos de pesquisa. Seriam formas simples de incentivar mulheres que sonham com a maternidade e a pesquisa”, sugere a cientista. 

“Sei por experiência própria, que ambas são perfeitamente conciliáveis e enriquecem tremendamente a trajetória de vida”, motiva. 

Por Ticiane Barbosa