Ex-alunos da Universidade de Tecnologia de Compiègne (UTC), representantes das universidades, do Governo do Estado e do setor produtivo participaram, nesta quarta-feira (04) no Campus da Indústria em Curitiba, do evento, realizado pela Fundação Araucária, de comemoração aos 40 anos de cooperação em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) do Paraná com a instituição francesa.

A relação da UTC com o Paraná, teve início em 1983 com a ida à França do primeiro aluno paranaense, Sérgio Asinelli, dentro do Programa em Gestão Técnica do Meio Urbano (GTU Brasil). Na época funcionário da Secretaria do Planejamento do Estado, Asinelli foi selecionado para uma bolsa oferecida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano, ligado ao Governo Federal, para estudar na UTC.

“Era um curso com aulas teóricas e práticas, com estágios em empresas e indústrias francesas, algo que não existia no Brasil. Trabalhávamos com equipes que já estavam desenvolvendo aqueles temas que eram nosso objeto de estudo”, conta o diretor da Câmara de Comércio e Indústria França-Brasil, Sérgio Asinelli.

Quando voltou ao Brasil, fez parte de uma equipe que contou com o apoio do coordenador do curso na UTC, Max Schaegger, e que veio ao Paraná para firmar um convênio com o Governo do Estado para a realização de novos projetos. A iniciativa possibilitou que mais técnicos fossem à França para estudar na UTC.

“Eu fico muito feliz em ver o que foi possível fazer, com a formação de muitos jovens que contribuíram para o desenvolvimento do Paraná. Na época que vim ao Paraná havia apenas três doutores em informática e criamos, em conjunto, o primeiro mestrado em Informática Industrial no antigo Cefet com professores que trouxemos da França e que ficaram por três anos aqui”, relata Max Schaegger.

“É preciso continuar investindo na internacionalização das universidades e com imersão industrial, como sempre trabalhamos, para a formação de bons profissionais”, disse Max.

O segundo aluno paranaense da Universidade Tecnológica de Compiègne foi Gerson Koch, atual diretor de Administração e Finanças da Fundação Araucária, em 1986. Mais tarde, em 1990, o Programa em Gestão Técnica do Meio Urbano começou a ser ofertado na PUCPR, na época coordenado por Gerson. Curso que tinha professores franceses e brasileiros, tornando-se mais tarde um Programa de Pós-graduação que, em 20 anos de funcionamento, formou mais de 350 profissionais com duplo diploma.

“Foi um programa importante que capacitou muitos profissionais, para a resolução de problemas na gestão e construção de cidades. Esta parceria deu origem a muitos outros programas como os que capacitaram engenheiros chegando, em determinado período, a Renault do Brasil em São José dos Pinhais, a ter cerca de 200 ex-alunos da UTC em seu quadro de funcionários. A UTC teve fundamental importância no papel dos engenheiros que tralharam na transformação do estado do Paraná”, ressaltou Koch.

Fato também lembrado pelo vice-presidente de Engenharia da Renault para a América Latina, Antonio Fleischmann. “Essa parceria da UTC com o Paraná foi fundamental desde a nossa decisão de vir para o Paraná, nos instalarmos em São José dos Pinhais e esta parceria nos proporcionou termos acesso a engenheiros com competências, o que contribuiu para a instalação da Renault no Paraná”, conta o vice-presidente.

A Universidade de Tecnologia de Compiègne (UTC) também teve grande influência na transformação do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR) em Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

“A UTC foi a primeira universidade tecnológica da França e ajudou a desenvolver a primeira universidade tecnológica do Brasil. Além disso, por insistência do coordenador do curso Max Schaegger, tinha que ter muita inserção industrial. Então, de acordo com as necessidades das indústrias paranaenses, eram montados programas específicos que atendessem as indústrias”, relatou Sérgio Asinelli.

As relações depois se estenderam para o campo industrial, cada universidade desenvolveu parcerias específicas com a UTC. Um dos primeiros programas estruturados foi o Programa de Informática Industrial em parceria entre a PUCPR, Cefet e Universidade Federal do Paraná (UFPR) formando além de mestres e doutores, também especialistas para as empresas.

“Quando o programa começou nós tínhamos um único doutor em informática no Paraná, na UFPR. Poucos anos depois todas as universidades já estavam repletas de mestres e doutores nesta área. Era o começo da automação industrial e as indústrias também precisavam de especialistas”, lembra Asinelli.

Também esteve presente na cerimônia em comemoração aos 40 anos de parceria entre o Paraná e a UTC, uma das fundadoras da universidade Anne Baleix. “Eu acredito que os resultados se refletem não apenas na pesquisa, mas na sociedade como um todo. Durante uma das primeiras visitas dos brasileiros à França nós explicamos como nossa universidade funcionava e como nós fazíamos pesquisa, e isso foi um dos motivadores para a transformação do antigo CEFET em universidade. Então, essa parceria é motivo de muita felicidade para todos nós na UTC, pois os frutos colhidos dessa parceria são evidentes tanto no sentido econômico como social”, observa a pesquisadora francesa.

Em seu discurso de abertura da cerimônia, o presidente da Fundação Araucária Ramiro Wahrhaftig e também ex-aluno da UTC, contou aos presentes um pouco da história que trouxe tantos avanços para o Paraná. Evento que começou a ser organizado no início do ano, dada a importância da instituição para o Paraná.

 “Foi uma satisfação enorme ter recebido nossos parceiros franceses aqui, não apenas para celebrarmos estes 40 anos de parceria, mas também, para firmarmos o acordo para o Programa Ganhando o Mundo da Ciência com a França. A UTC ofereceu 50 vagas, que é o maior número que já fechamos dentro do programa. Esta história com o Paraná é de muito desenvolvimento conjunto, de formação de engenheiros tão importante para o desenvolvimento do Paraná, uma cooperação que foi muito ampliada com o Ganhando o Mundo da Ciência”, reforçou.

O secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, ressaltou que influências como as que a UTC teve no avanço da CT&I no Paraná permitiram que, atualmente, o estado esteja preparado para também contribuir com outros países.

“Foi por meio de iniciativas como estas que o nosso estado conseguiu chegar ao estágio que temos agora. Quero agradecer a todas estas pessoas que, por meio desta colaboração com a UTC e com outras instituições parceiras internacionais, podemos chegar a um momento em que falar em cooperação internacional já não é mais pensar somente em uma via de mão única, estamos em um momento que nos permite pensar em cooperação internacional com reciprocidade”, disse.

A presidente da UTC, Claire Rossi, que veio a Curitiba especialmente para as comemorações dos 40 anos de parceria com o Paraná, aproveitou sua passagem pela cidade para visitar a UTFPR, UFPR e PUCPR e ficou impressionada com tudo que conheceu. Ela enfatizou que, além do momento de comemoração pela história de muitos frutos colhidos, também é preciso pensar nos avanços futuros.

“Nós temos muitos desafios agora, como a transição energética e ecológica na nossa sociedade. É uma preocupação da UTC e que podemos ver que já existem pesquisas muito bem consolidadas sobre esses temas no estado do Paraná”, afirmou.

Disse ainda que, conhecer as instituições paranaenses, seus pesquisadores e dirigentes a faz ter ainda mais orgulho da parceria com o Paraná. “Saio daqui pensando no futuro que teremos de colaboração entre os alunos franceses e brasileiros e nos objetivos que podem ser tanto franceses como brasileiros. E penso que a estrutura de nossas universidades tende só a crescer e melhorar com essa linda parceria", comentou a presidente da UTC.

A assessora de relações internacionais da UTC, Joanna Daaboul, ressaltou a evolução conquistada pelo Paraná e que a relação com a universidade francesa é muito diferente de décadas atrás pois as instituições paranaenses têm muito a oferecer à UTC diante do desenvolvimento alcançado.

“A UTC foi muito importante para o desenvolvimento da engenharia no Paraná. Mas hoje, a UTC está aprendendo com tudo que é feito aqui no Paraná que possui um desenvolvimento exponencial e excepcional. Agora acompanhamos o Estado do Paraná na construção de novos projetos inovadores. Essa é a nossa segunda etapa, que não vamos criar coisas para o Paraná, mas criar coisas em conjunto com o Paraná. Construir novas tecnologias para a França e para o Paraná”, observou Joana.

Também fizeram parte da delegação francesa os pesquisadores Gilles Morel, Pascal Alberti, Pierre Henri Dejean e Pierre Gerard Bazillou.

UTC – A Universidade de Tecnologia de Compiègne foi criada em 1972. Seja em termos de formação, investigação, abertura internacional ou interações com empresas, a UTC é regularmente classificada no topo das escolas de engenharia. Tem 4400 estudantes, atualmente, e mais de 28.300 graduados em todo o mundo.