Napi Taxonline alcança excelentes resultados desde ações de combate à Covid até a descoberta de mais de 230 espécies 23/06/2023 - 11:24
Após três anos de trabalho, iniciado em maio de 2020, o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (Napi) Taxonline conseguiu reunir 50 coleções biológicas das áreas da Botânica, Zoológica e Microbiológicas. As coleções biológicas são a base para qualquer estudo em biodiversidade e aplicação biotecnológica. Também foram descritas mais de 230 espécies novas de grupos diversos como insetos, bactérias, fungos, plantas, anelídeos, ascídeas e peixes (que não eram conhecidas pela ciência).
Criado a partir da Rede Paranaense de Coleções Biológicas, o novo arranjo reúne pesquisadores e representantes de 18 instituições federais, estaduais e municipais. O resultado dos trabalhos e as sugestões de continuidade foram apresentados no workshop realizado nesta quinta-feira (22) na Fundação Araucária, em Curitiba.
De acordo com a articuladora do Napi e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luciane Marinoni, todas as pesquisas e descobertas constam em banco de dados de acesso livre à sociedade armazenado no site www.taxonline.bio.br . São mais de 1,2 milhão registros já liberados de todas as coleções.
Ela explica que as coleções biológicas estão em todos os setores. “As coleções e as informações que estão nelas contidas dão condições para definirmos, por exemplo, o que são espécies exóticas e as que são invasoras ou não. Aquelas que podem causar danos à agricultura por exemplo e a partir disso definir as espécies que podem ser utilizadas para controle biológico destas espécies consideradas exóticas”, ressalta a pesquisadora.
Também é possível observar as espécies que estão em extinção ou não, além poder monitorar e prever mudanças climáticas, quais são os grupos que estão sofrendo com as mudanças climáticas e o motivo. “Podemos prever o que vai acontecer se tivermos mais impacto na biodiversidade. Também podemos monitorar, por exemplo, bacias sedimentares para definir onde há óleo e gás para serem buscados e utilizados para a população. Na biotecnologia as coleções têm informações genéticas que são importantíssimas para a produção de medicamentos, cosméticos, entre outros”, destaca Luciane Marinoni.
Segundo a coordenadora geral de Ecossistemas e Biodiversidade da Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Cláudia Czarneski, os trabalhos desenvolvidos pelo Napi Taxonline têm ajudado a fortalecer o desenvolvimento de políticas públicas na área de coleções. “A gente sabe da importância das coleções científicas como fonte de informação, em alguns casos a única fonte de informação da biodiversidade, e a gente apoiar coleções significa que a gente está apoiando a pesquisa e a inovação. Temos uma boa notícia a anunciar de que nós conseguimos aprovar, nos fundos setoriais, R$ 80 milhões para as coleções biológicas, aguardamos o repasse dos recursos para iniciar as atividades”, disse.
O formato da iniciativa dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação foi elogiado pela pró-reitora de pesquisa e pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Silvia Meletti. “É uma iniciativa que direciona recursos para a universidade e que possibilita um trabalho multidisciplinar e interinstitucional que favorece desde a pesquisa básica até a ação extensionista. Isso é fundamental para a produção da ciência e a ciência está em todas as áreas. O fomento à produção científica é um investimento que se reverte para a sociedade quase que automaticamente”, argumenta.
Combate à Covid - Por meio dos microorganismos é possível definir o que são organismos com potencial para doenças e uma nova pandemia, por exemplo. “Na pandemia do coronavírus se a gente tivesse mais conhecimento dos microorganismos depositados em coleções biológicas nós teríamos poupado muitas vidas e tempo para a descoberta de vacinas”, explica a pesquisadora Luciane Marinoni.
Um dos importantes resultados alcançados pelos pesquisadores do Napi foi obtido no trabalho realizado junto ao Projeto da Rede Nacional Covid e Esgoto do MCTI que conta com a participação das empresas de tratamento de água. Vânia Aparecida Vicente professora da UFPR e uma das articuladoras do Napi, explica que a equipe tem trabalhado na quantificação da carga viral em águas residuais.
“A ideia é identificar o vírus e termos uma correlação efetiva entre carga viral aparecendo no esgoto com o número de casos quantificados à frente, uma semana a quinze dias posteriormente. Com essa experiência da Rede foram surgindo outros projetos e a gente vem adotando o mesmo modelo para avaliar a circulação de outros agentes de características emergentes ou reemergentes e consequentemente conseguir monitorar a circulação desses agentes na população de maneira geral”, comenta.
Gustavo Possetti, gerente de Pesquisa e Inovação da Sanepar, reforçou que a Sanepar é parceira da inciativa dos novos arranjos de pesquisa e inovação e ressaltou a importância da participação do Napi na Rede Nacional Covid e Esgoto. “Este foi um dos projetos mais importantes da Sanepar quando tivemos que reagir em um momento de pandemia, extremamente difícil. E quando se olha para atividades essenciais se torna ainda mais desafiador. Os profissionais do Napi junto aos da Sanepar e à Rede Nacional, trouxeram uma contribuição significativa com a produção do conhecimento científico e sua aplicação”.
“Especificamente na microbiologia, nós entendemos que a epidemiologia baseada no esgoto pode trazer informações importantes para diferentes aplicações e ter estes bancos de dados devidamente atualizados e publicados para que possam ser utilizados para a melhoria de processos e para o estabelecimento de políticas públicas é essencial para o nosso trabalho”, afirmou o gerente da Sanepar.
A equipe do Napi Taxonline tem contado com a colaboração de toda a estrutura laboratorial da UFPR para o desenvolvimento das diferentes plataformas de sequenciamento, em particular o Centro de Coleções de Culturas Microbiológicas da Rede Paranaense (CMRP) disponibiliza laboratórios de nível de biossegurança adequado para o desenvolvimento de etapas metodológicas. Os pesquisadores do Napi estão organizando os bancos de dados e de material biológico como o grande Banco de RNA Viral do qual estão trabalhando na elucidação através de sequenciamento das linhagens que circularam durante o período pandêmico avaliado desde 2020.
ICMS Ecológico – Muitos municípios que não contam com indústrias instaladas ou outras formas de arrecadação de recursos, têm no ICMS Ecológico uma importante fonte de arrecadação. Um dos exemplos é o município de Mato Rico que passou de uma arrecadação de R$ 600 mil para quase R$ 4 milhões com o ICMS Ecológico.
O ICMS Ecológico é um instrumento de política pública que trata do repasse de recursos financeiros aos municípios que abrigam em seus territórios Unidades de Conservação ou mananciais para abastecimento de municípios vizinhos.
As coleções biológicas oferecem dados importantes para a conservação e ampliação de áreas de conservação. “As Unidades de Conservação além de conservarem as plantas e animais, a biodiversidade como um todo, elas ainda têm a questão do ICMS Ecológico que é pago aos municípios que mantém essas áreas e isso acaba influenciando diretamente a comunidade. Estas Unidades de Conservação através do ICMS acabam aportando recurso para o município que é usado em saúde, educação, beneficiando diretamente a sociedade”, explica Marcelo Galeazzi Caxambu professor do Departamento de Biodiversidade e Conservação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Uma das empresas beneficiadas pelo trabalho desenvolvido no Napi Taxonline é a CCM AMBIENTAL (Consciência e Conservação do Meio Ambiente), uma empresa prestadora de serviços ligados à área ambiental seja natural ou antrópico, objetivando a compatibilização dos mais variados processos produtivos à legislação ambiental vigente, na esfera municipal, estadual e federal.
“A CCM tem utilizado da coleção para fazer a identificação das plantas que existem nas unidades de conservação para propor novas áreas de conservação ambiental ou poder fazer o plano de manejo destas áreas”, comentou o professor Caxambu.
“O trabalho realizado pelo Napi tem contribuído muito com o desenvolvido pela CCM nas Unidades de Conservação em diversos municípios. É um grande apoio para a tomada de decisões. Temos projetos de expandir para mais ações de manejo, temos muitas Unidades que podem alcançar um ápice de qualidade ambiental e só a partir destes estudos e diagnósticos que seremos capazes de alcançar estes resultados”, disse Haniel Casalvara sócio da empresa.