Pesquisa cria produto inovador para uso na área de instalações hidráulicas 22/01/2019 - 10:40

Pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil (mestrado), do Centro de Tecnologia e Urbanismo (CTU), resultou na criação de produto inovador na área de instalações hidráulicas residenciais, que utilizam sistemas de aquecimento solar ou a gás. É o chamado misturador regulador de fluxos. Com a invenção, pesquisadores do CTU conquistaram a última edição do Prêmio de Ciência e Tecnologia, da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) - categoria inventor independente.

A mestranda, Jeniffer Lopes Oliana, explica que o produto é capaz de misturar e controlar o fluxo de água quente e fria, a partir do uso de apenas um único registro. Com base em um problema real, verificado em diversas residências, principalmente em casas populares do programa "Minha casa, Minha vida", a pesquisadora identificou a necessidade de solução para a questão, a partir de solução simples e funcional. Ela explica que muitos moradores se queixavam da dificuldade em dosar a água na hora do banho, por exemplo, em função da pressão entre a água fria e água quente.

Jeniffer cita a existência de habitações de interesse social em que essa "patologia" chegou a níveis mais extremos, gerando queimaduras no corpo do usuário, resultado do desconhecimento da normalidade do sistema. A experiência foi inclusive vivida por um familiar da pesquisadora. "O banho é algo que associamos ao momento de relaxamento e conforto. Ter problema até mesmo nisso é entregar o mínimo do mínimo aos usuários", afirma.

Também enquanto Jeniffer atuava na área de projetos hidrossanitários, ela identificou que o problema era recorrente, afetando inclusive os encanamentos da casa, devido ao retorno da água quente pelas tubulações de água fria. Conforme constata a mestranda, o projeto hidrossanitário é o menos valorizado entre os projetos complementares de uma obra, sendo também o mais "sabotado". "Esse é o setor que apresenta maior índice reclamações pós-ocupacionais. Sem dúvida, é o que dá mais dor de cabeça, por estar relacionado com problemas de vazamento, infiltração, mofo", explica.

"Não é possível que tenha que ser sempre assim?", diz indignada a pesquisadora. Ela já pensava em uma solução para o problema antes de começar o mestrado. A ideia começou a sair do papel depois que a jovem cursou disciplina especial do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, oportunidade em que teve a chance de apresentar a ideia ao professor Altibano Ortenzi, do Departamento de Engenharia Civil, do CTU. 

Em 2017, após aprovação na seleção do Programa de Pós-graduação da UEL, Jeniffer, que até abril deste ano vai defender a dissertação, deu o ponta-pé inicial e começou a pesquisa, com a identificação das possibilidades de aplicação do produto. Em seguida, foi criado protótipo experimental. A partir daí, o produto se mostrou inovador, o que resultou no processo de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Ainda de acordo com a mestranda, com a pesquisa na reta final, a ideia é criar protótipo funcional, cujo objetivo é fazer a covalidação do dispositivo como produto direcionado para o mercado.

Produto - O misturador regulador de fluxos tem formato circular, duas entradas de água, quente e fria, e saída para o chuveiro. Ao rotacionar a chave do dispositivo, é gerada uma defasagem de aberturas que controlam o fluxo de água que passará pelo orifício. A quantidade de água pode ser maior ou menor, conforme a necessidade de esfriar ou esquentar a água. O diferencial do protótipo reside no fato de que, diferentemente do misturador comum, ele permite o controle de velocidade, vazão ou pressão da água.

O produto não é exclusivo para chuveiros, também pode ser utilizado, em proporções maiores, especialmente em usinas de processamento de etanol e petroquímica, além de instalações de médio e alto padrão. O tipo do material varia conforme a finalidade da utilização. Como produto de instalações hidrossanitárias, por exemplo, podem ser usados modelos conhecidos como ABS, PPR e CPVC, compatíveis com o que já existe no mercado. Ainda segundo Jeniffer, a principal vantagem do dispositivo é ser simples e barato, quando comparado aos modelos de misturadores disponíveis no mercado. É o caso do "monocomando", cujo conjunto - base e acabamento - é vendido a partir de R$ 300,00.

Software - O dispositivo foi montado no software SolidWorks em modelagem 3D. Segundo o professor Altibano, o software cria um modelo virtual que representa perfeitamente a realidade. A vantagem é que mesmo antes do produto pronto, já é possível a realização de análises de desempenho, além da geração de moldes para fabricação, benefícios que agilizam o processo de produção para a indústria. Com essa ferramenta, um protótipo experimental foi fabricado, com manufatura aditiva em impressora 3D, produzida na Universidade de São Paulo (USP/ São Carlos). Na avaliação do professor Altibano, a expectativa é que o novo produto seja comercializado com margem de lucro de mais de 20%, sendo o valor de venda R$ 170,00.

O professor afirma ainda que a inovação é possível na Universidade. Segundo ele, é justamente a proposta do grupo de pesquisa GetIn, criado em 2016, e que atualmente conta com 13 pesquisadores. Ele aponta que não é comum a criação de produto nas pesquisas de mestrado, mas que preza pela ciência, junto com a perspectiva de aplicação no setor. A ideia, segundo ele, é desenvolver algo que realmente seja novo, com a mínima possibilidade de aplicação no setor de construção civil.

Altibano defende que as pesquisas não visam o mercado, ao contrário, é a indústria que deve buscar a Universidade. "O benefício sai daqui para a sociedade", defende. A conquista do Prêmio, segundo o professor, significa o reconhecimento dos projetos realizados pelo GetIn. Para ele, todas as pesquisas têm relação direta, o que só reforça o papel do trabalho em equipe. Ele destaca a importância do grupo participar de premiações deste tipo, com o objetivo de divulgar os estudos e demais pesquisas desenvolvidas.

A adoção do software contou com colaboração do estudante do curso de Engenharia Civil, do CTU, e bolsista de Iniciação Científica, Mateus Benek. Ele conta que para garantir a atuação em projetos grupo, foi preciso aprender conceitos de hidráulica antes mesmo de ter a aula sobre o assunto na graduação, por isso considera que cresceu com a experiência. O jovem aponta que o prêmio mostra que o grupo de pesquisa está no caminho certo. 

Fonte: Assessoria de Comunicação da UEL.

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