Pesquisadores trabalham em prol da popularização da Ciência e Tecnologia 06/02/2015 - 16:10

Aproximar a ciência e tecnologia da população e fazer com que ela entenda a importância e influência que podem ter e ocasionar na vida de cada um, são objetivos fundamentais que devem ser almejados como consequência do desenvolvimento de pesquisas científicas, segundo o químico Francisco de Assis Marques, do Departamento de Química da UFPR. 

Francisco e o biólogo Eduardo Novaes Ramires, trabalham em parceria com pesquisas referentes ao controle da aranha-marrom há vários anos. De 2004 a 2008 fizeram parte de uma equipe multidisciplinar de um projeto PRONEX, apoiado com recursos da Fundação Araucária e do CNPq, que tinha como principais desafios a geração de conhecimentos que pudessem ser utilizados pelo poder público para minimizar os acidentes loxoscélicos em cidades em que o número de acidentes é alto, como é o caso de Curitiba e das cidades pertencentes à região metropolitana. Esse projeto foi coordenado pelo professor José Domingos Fontana e teve a participação de outros pesquisadores como a professora Marta Luciane Fisher da PUC-PR e Emanuel Marques da Silva – SESA PR. 

Os importantes resultados obtidos com o desenvolvimento desse projeto e a aderência desses resultados às demandas apresentadas pela população, no que tange a metodologias que possam ser usadas para o controle dessa importante praga urbana, fez com que fosse criado o site (www.aranhamarrom.net), com informações importantes que, se usadas adequadamente, podem auxiliar a reduzir drasticamente a população dessa aranha nos lares curitibanos. 

O Brasil tem 11 espécies de aranha-marrom. Elas se assemelham muito na forma do corpo e tamanho e os sintomas das picadas também são semelhantes. Apesar dessas semelhanças todas, existem importantes diferenças entre as espécies. A que é mais comumente encontrada no Paraná, é a Loxosceles intermedia. Essa espécie não investe tanta energia na construção da teia comparada a outras espécies é uma caçadora ativa chegando a se locomover até 30 metros por noite. Essa característica faz com que ela saia dos seus abrigos como sótãos e caminhe pela casa. Como essa aranha também não gosta de luz, se esgueira por armários, dentro de roupas e no fundo dos sapatos para fugir de qualquer iluminação. E é daí que podem ocorrer os acidentes. A aranha marrom não é agressiva, a picada ocorre apenas se a aranha for comprimida contra o corpo, e não causa, em geral, dor. 

No “site”, as pessoas podem encontrar informações como a biologia, controle e epidemiologia da aranha - marrom do Paraná. “A maioria das pessoas não faz ideia que um simples aspirador de pó pode eliminar muitas das aranhas de suas casas. Informações como essas, e muitas outras que estão no “site”, devem ser repassadas para a sociedade como um todo. É educando que é possível mudar a realidade”, afirma Francisco.

 E é para que esse conhecimento adquirido por meio das pesquisas científicas e tecnológicas seja disseminado e evoluído que a Fundação Araucária foi criada. Só nesse grupo de pesquisa, atualmente constituído pelo químico Francisco, pelo biólogo Eduardo, pelo professor Mário Antonio Navarro da Silva (UFPR) e pelo professor Maurício Ursi Ventura (UEL) , contando com a participação de diversos alunos, como é o caso da pós-doutoranda Scheila Ribeiro Messa Zaleski, a Fundação Araucária auxilia no financiamento de três projetos. Esses projetos estão relacionados ao desenvolvimento de metodologias alternativas de controle de importantes pragas agrícolas, florestais e urbanas.

 O grupo de pesquisa já alcançou diversos resultados bastante positivos em seus trabalhos, como por exemplo, chegaram recentemente a uma mistura de produtos naturais que mata a aranha- marrom, resultado inédito em nível mundial. A partir de então, começaram as tentativas para encapsular as substâncias naturais para aumentar a eficiência da formulação final, visando a transformação desse conhecimento em um produto que possa ser usado nas residências. O desafio é fazer um produto eficiente e o objetivo é que as cápsulas tenham aderência ao corpo da aranha e, gradualmente, liberem as substâncias naturais até que o animal morra.

 “Nós não queremos eliminar nenhuma espécie, porque cada uma delas possui a sua importância no meio ambiente, queremos apenas controlar as pragas urbanas e agrícolas quando elas chegam ao ponto de prejudicar o ser humano. Sempre procuramos desenvolver metodologias de controle baseadas em produtos naturais, essa relacionada à aranha-marrom, por exemplo, é única no mundo”, destaca Eduardo. 

Além do trabalho desenvolvido nos laboratórios, esse grupo apresenta a estudantes da educação básica parte dos trabalhos científicos desenvolvidos pela Universidade. A atividade faz parte do projeto “Ciência Itinerante”. Nesse projeto, os estudantes também podem conhecer pessoalmente os laboratórios desses pesquisadores. “Esse tipo de atividade envolve uma troca de experiência fantástica, algo que a universidade não pode deixar de fazer. Queremos mostrar a esses estudantes que a ciência está muito próxima ao cotidiano deles e que as pesquisas são feitas por pessoas e para as pessoas”, destaca Francisco. 

Um estudo coordenado por Ildeu Moreira, diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, demonstrou em 2006, que somente 15% das pessoas abordadas foram capazes de citar uma instituição científica importante no Brasil ou o nome de um cientista famoso. Na opinião do diretor, são necessários cada vez mais estudos sobre quais estratégias discursivas utilizar, sobre a organização da informação no texto, e que temáticas estão a serviço da sociedade. “Senão a ciência fica enclausurada”, avisa. “O pensamento científico, seja na matemática, física, química ou arte, deveria ser estudado intensivamente na escola para que qualquer sujeito fosse capaz de se relacionar com a ciência”, opina. 

Nos últimos quatro anos foram financiadas pela Fundação Araucária em parceria com o CNPq mais de 11.400 bolsas de iniciação científica, que incentivam a inserção de alunos na ciência já no ensino médio, resultando em um investimento acima de R$52 milhões. Essas bolsas foram divididas para os seguintes programas: Programa de Bolsas para Iniciação Científica Júnior (Pibic‐Jr) para alunos do ensino médio; Programa Institucional de Bolsas para Extensão Universitária – PIBEX (que também utiliza recursos da iniciação científica); Programa Institucional de Apoio a Inclusão Social - Pesquisa e Extensão Universitária e Programa de Bolsas de Iniciação Científica e Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (para alunos de graduação).

 “O nosso grande objetivo é promover o desenvolvimento da pesquisa, da ciência, da tecnologia e da inovação, que podem ser consideradas sementes do desenvolvimento social e econômico de uma nação”, salienta o presidente da Fundação Araucária, Paulo Brofman.

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